Três regras para escrever um artigo

Tatiana Sendin
3 min readFeb 12, 2020

Decidi analisar o motivo de não ter terminado nenhum dos oito textos que comecei para falar sobre meu(s) processo(s) de mudança(s).

Não entregar um trabalho é inadmissível para um jornalista. Logo, não entregar oito sinaliza um problema grave.

Na minha autoavaliação, notei que os rascunhos quebravam vários padrões de qualidade — muitos dos quais eu impunha nos meus tempos de editora-chefe. Eles concentravam todos os elementos do que eu chamo de: “texto ruim”.

Ao notar que a ineficiência estava relacionada mais à forma do que ao conteúdo, decidi produzir algo de utilidade pública: 3 regras básicas para escrever um artigo.

Nos últimos anos, tenho editado textos não só de jornalistas, mas também de executivos, C-levels e founders. E esses são os primeiros elementos que analiso num documento:

  1. Foco é tudo. Tenho tanta coisa para contar que tentar agrupar tudo num único documento virou missão impossível. Mas e a coragem para focar num único tema e deixar o resto de lado? E o medo de não ter tempo de escrever as outras partes e a história acabar incompleta? Ao mesmo tempo, um texto sem foco fica longo e chato. Ninguém lê. Se ninguém lê, para que escrever? Nesse dilema, nada saiu. Muita gente passa por isso quando tem uma ou várias ideias para um artigo. No jornalismo, nós aprendemos desde o início que “Escrever é cortar palavras”. É dizer o máximo [passar a maior quantidade de informações] com o mínimo [poucos caracteres]. Então, lição 1: sempre escolha um tema, um ponto específico, e concentre-se nele.
  2. É preciso ter coragem. Ninguém gosta de expor suas fraquezas, por isso a maioria dos artigos são superficiais. Quando lidos, deixam aquela sensação de: “e…?” Texto bom é o que vai fundo na alma, expõe a fragilidade, os erros, os medos — a verdade. Syd Field, um dos maiores especialistas em roteiro e storytelling da atualidade, explica em seu livro The Screenwriter’s Workbook que história boa é aquela em que o personagem deseja muito algo, e vários obstáculos aparecem para dificultar sua realização. Num determinado ponto, depois de sofrer bastante, a maré ruim começa a mudar e o heroi finalmente alcança o que quer. O mesmo deve acontecer nos artigos: texto da vida perfeita, superficial, fácil, não engaja. Contudo, colocar as dificuldades no papel e se expor de forma verdadeira e profunda exige coragem, eu sei. No meu caso, devo reconhecer minhas limitações com a língua inglesa, por exemplo. Me falta vocabulário para expressar minhas ideias e sentimentos, e isso acaba prejudicando minhas interações sociais. Expor isso demonstra força — e humildade.
  3. Texto para quê? Qual o propósito do texto que você quer escrever? Como isso pode ajudar outras pessoas? No que ele difere do amontoado de ideias que circulam por aí? Abandonei alguns dos meus rascunhos pensando nisso: tanta gente já mudou de carreira e de país, o que eu tenho a agregar além de nada? Como meu texto poderia ajudar? Qual seria o seu propósito? Sem uma resposta clara, melhor nem começar.

Bastante gente me pede dicas de sobre o que escrever, e como. Vontade todo mundo tem, mas falta um pouco de direcionamento. Então espero que essas três regras simples facilitem o processo, nem que seja do primeiro rascunho.

Texto bom leva tempo para ser produzido. As palavras, assim como o mármore das estátuas antigas, também devem ser lapidadas.

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Tatiana Sendin

Journalist, with 20 years of experience. Founder of Think Work Lab | Transforming companies and HR through content and connections